Semana Santa em Paraty

Desde seus primórdios que Paraty é uma cidade tradicionalmente católica, organizando e festejando anualmente cerca de 23 festas de cunho religioso, sendo as mais importantes a festa do Divino, a festa e procissão marítima de São Pedro, a festa de Santa Rita, a festa de N.S. dos Remédios - Padroeira da Cidade - e a Semana Santa. Esta última será comemorada no período de 28 de março a 04 de abril.
Comemorações da Semana Santa na cidade histórica de Paraty mantêm tradições que datam dos séculos XVII e XVIII, ocasião em que podem ser admiradas imagens e peças sacras com mais de 300 anos de existência. Essas peças, que se encontram sob a tutela do IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional -, ficam guardadas todo o ano no cofre do Museu de Arte Sacra de Paraty, na igreja de Santa Rita.
Todas as procissões e celebrações da Semana Santa são, até hoje, preservadas, tanto pela paróquia quanto pelo povo paratiense. Na verdade, algumas delas foram adaptadas – como, por exemplo, a Procissão do Encontro – que era realizada uma semana antes e, atualmente, acontece na própria Sexta-Feira.
Seis peças de valor histórico-arquitetônico incalculável podem ser vistas na Sexta-Feira Santa em Paraty: os Passos da Paixão, abertos apenas uma vez por ano.
Os Passos são pequenos altares embutidos em paredes de sobrados, casas e igrejas representando os principais momentos da Paixão de Cristo, tradição que veio de Portugal ainda no Brasil Colônia, tendo sido construídos passos em diversas cidades além de Paraty, como Tiradentes, Ouro Preto, Congonhas e São João del Rey, todas em Minas Gerais. Restaram seis Passos em Paraty, restaurados, sendo três na rua do Comércio, dois na rua Dona Geralda e um na lateral da igreja de Santa Rita.
Um dos pontos altos da Semana Santa em Paraty é a Procissão do Fogaréu (ou da Prisão) da qual, no início, somente homens participavam, sendo as mulheres proibidas até de vê-la pelas janelas. Dessa procissão, reativada na década de 70 por um grupo de jovens paratienses, participava a figura do Centurião, que ia à frente do andor tocando uma corneta quando chegava à frente das igrejas. O Fogaréu, que inicia à meia noite de Quinta-Feira, 01 de abril, simboliza a prisão de Cristo. Nessa procissão secular os fiéis saem pelas ruas de pedras do Centro Histórico portando fifós (tochas), com as luzes dos postes apagadas e ao som incessante de matracas - o que nos transporta a outros tempos. As matracas vieram substituir os sinos que, por serem motivo de júbilo, silenciam na Quinta-Feira Santa e só voltam a tocar no Domingo de Páscoa.
É curioso notar durante a procissão que, em fila, os fiéis entram pelas laterais saindo pela porta principal de todas as igrejas do Centro Histórico. São duas explicações para este fato: uma litúrgica e uma popular. A versão litúrgica trata da indulgência plenária – o perdão dos pecados sem a confissão; e a popular estipula que a procissão do Fogaréu é uma dramatização dos passos de Cristo, isto é, as igrejas representam os lugares por onde Cristo teria passado após a prisão: Anás, Caifás, Herodes, Pilatos e presos nunca entram pela porta da frente.
Além de Paraty, uma das poucas cidades onde ainda se mantém viva a tradição do Fogaréu – embora realizada de maneira distinta, sobretudo nos figurinos - é na cidade de Goiás Velho, em Goiás, recém-agraciada pela Unesco com o título de Patrimônio da Humanidade.
Imagens sacras de valor incalculável podem ser admiradas durante as procissões da Semana Santa em Paraty: o Senhor dos Passos, do século XVIII, em tamanho natural, com braços articulados; o Cristo Crucificado, também em tamanho natural, usado na cena do Calvário, arte espanhola do século XVIII; a Nossa Senhora da Soledade, que sai na Procissão do Enterro, de 1.80m de altura e origem também espanhola, muito provavelmente do oitocentos; e o Senhor da Cana Verde e a N.S. das Dores, ambas igualmente do século XVIII, chamadas peças "de roca", isto é, figuras que possuem apenas a cabeça, os braços e os pés, muito comuns em Minas Gerais.
Durante as procissões da Semana Santa em Paraty podem ser vistas outras peças raras feitas em madeira, como o esquife do Senhor Morto, ou de prata ricamente lavrada, como as lanternas e o Pálio da Procissão do Enterro, entre outras.

ESPETÁCULO “UM HOMEM CHAMADO JESUS”
Na sexta-feira da Paixão, dia 02 de abril, será apresentado o Auto da Paixão “Um Homem Chamado Jesus”, espetáculo escrito e dirigido por Themilton Tavares, com um elenco de mais de sessenta atores paratienses. A história de Cristo, contada por um narrador e encenada em quatro planos elevados num morro de areia, será apresentada no Areal do Pontal. O evento conta com iluminação e sonorização,
Segundo Themilton, os preparativos para a montagem do espetáculo já estão sendo providenciados. Ele disse que a peça trata da vida de um homem que defendeu o amor, a boa vontade e a paz entre os homens. É isso que ele pretende mostrar e deixar registrado para todos neste espetáculo: a importância destas mensagens e o valor do respeito, da ética e da honestidade.

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